A Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) foi fundada em 1996 como uma associação sem fins econômicos. Seu objetivo primordial é garantir espaço ampliado de discussão a todas as correntes teóricas e áreas de trabalho que entendam a economia como uma ciência essencialmente social e que, por isso mesmo, tenham na crítica ao mainstream da Economia seu elemento comum e articulador das atividades acadêmicas e políticas.
Dentre as diversas atividades organizadas e/ou incentivadas pela SEP, destaca-se o Encontro Nacional de Economia Política, de periodicidade anual, cuja primeira edição é de 1996. A instituição possui um periódico, a Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, e articula estudos e pesquisas de seus associados em grupos de trabalho temáticos. A SEP articula-se com instituições nacionais e internacionais diversas, dentre as quais a Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC) e a Associação Nacional dos Curso de Graduação em Economia (ANGE) e a Sociedad Latinoamericana de Economía Política y Pensamiento Crítico (SEPLA).
Neste sábado, dia 08 de junho de 2024, toda a comunidade da economia do Brasil, em especial a heterodoxa, vive o luto pelo falecimento de uma das maiores economistas da nossa história. Portuguesa de nascimento, brasileira por escolha, Maria da Conceição Tavares foi a professora que formou gerações e mais gerações de economistas heterodoxos no Brasil. Não é possível pensar o pensamento econômico brasileiro sem fazer menção a suas obras e análises sobre o processo de desenvolvimento brasileiro e sobre o capitalismo. O desenvolvimentismo latino-americano teve na voz de Maria da Conceição Tavares algumas das suas mais originais, potentes e provocativas formulações. Suas análises nas áreas de economia política, desenvolvimento, economia política internacional, industrialização e financeirização, e destes processos no Brasil e na América Latina são referência para a formação do nosso pensamento econômico crítico.
Nas suas mais diferentes linhas de atuação, seja como professora na UFRJ e na Unicamp, seja como economista em instituições como o BNDES (à época, BNDE) e Cepal, seja em sua vida pública como militante política e deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro (legislação 1995-1999), Maria da Conceição Tavares sempre teve alguns elementos basilares em suas ações e formulações: a preocupação com o Brasil e suas contradições e com o desafio e as possibilidades para o desenvolvimento brasileiro; a defesa da perspectiva da classe trabalhadora; a defesa do sentido fundamentalmente social das questões econômicas e o entendimento de que a economia é, em essência, a economia política. Neste sentido, Maria da Conceição Tavares simbolizava as premissas e concepções da Sociedade Brasileira de Economia Política.
Mesmo com sua perspectiva essencialmente desenvolvimentista, Maria da Conceição Tavares foi uma economista revolucionária, uma mulher em um campo altamente masculinizado e misógino, uma refugiada política em mais de uma ocasião (em 1954 migrou para o Brasil fugindo da ditadura de Salazar em Portugal; foi exilada política no Chile no período da ditadura empresarial-militar brasileira; e, no Chile de Allende, sofreu o golpe de Pinochet em 1973, tornando-se novamente exilada política) e peça fundamental para a configuração do pensamento crítico e heterodoxo no Brasil e na América Latina.
Nos solidarizamos e dirigimos nossos sentimentos a sua família, amigos e colegas e nos juntamos ao luto pela sua perda. Agradecemos por tudo o que Maria da Conceição Tavares representa para a heterodoxia e a economia política no Brasil e na América Latina. E, acima de tudo, reforçamos o compromisso com o legado da perspectiva crítica e insurgente sobre o Brasil e as questões da classe trabalhadora a partir da economia política.
Bom trabalho a todas/os!
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA POLÍTICA
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará | Evento Presencial | 11 a 14/06/2024
Informações e dúvidas: enep@sep.org.br
Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política
Periodicidade quadrimestral | Publicada continuamente desde 1997